quarta-feira, 22 de julho de 2009

A Assinatura de Jesus

Conheço um homem que por 25 anos tem se recusado a permitir uma cruz ou um crucifixo em sua casa. Longe de ser superficial, ele é uma pessoa de integridade. Não grita em coro com a multidão nem dispensa o cristianismo como antiguidade mofada de um passado medieval. Por que então a recusa? Em suas próprias palavras: " Não aguento a cruz. Ela é uma negação de tudo que valorizo na vida. Sou um homem orgulhoso e sensual. Busco o prazer. A Cruz me repreende. Ela diz: 'você está errado.Sua vida deve assumir esta forma. Esta é a única interpretação da vida, e a vida só é verdadeira quando assume esta forma." E por essa razão ele não permite o simbolo do Cristo crucificado dentro de sua casa. Em sua honestidade ele sabe que para permiti-lo deve comprometer-se a um modo de vida que contradiz a vida que ele está vivendo.
Para o apostolo Paulo, hostilidade á Cruz é a caracteristica primordial do mundo. Aos gálatas, Paulo escreve que o que distingue o cristão de forma mais profunda é o fato que através da Cruz de Jesus o mundo está crucificado para ele e ele para o mundo. Aos corintios Paulo diz que manifestamos a vida de Jesus apenas quando levamos sobre nós a sua morte. O que Paulo diz a eles aplica-se a todo cristão. O Mestre disse que aquele que " não tomar a sua CRuz e me seguir não é digno de mim" (MT 10.38). Quando chama um homem, Jesus o convida: " Venha e morra". Quando nossas crenças dogmáticas e principios morais não se materializam em discipulado, nossa santidade é uma ilusão. E o mundo não tem tempo para ilusões. Hoje em dia a comunidade cristã não incomoda o mundo. E por que deveria? A Cruz é lugar comum no brinco da cantora de rock Madona tanto quanto é numa pedra tumular. A piedade cristão trrivializou o apaixonado Deus do Gólgota. A religião organizada domesticou o crucificado Senhor da glória, transformando-o em comportado simbolo. Vista como reliquia da igreja, a Cruz não incomoda nossa confortável e hipócrita religiosidade.

sábado, 4 de julho de 2009

VOCÊ JÁ ESTÁ NO CÉU

Afinal, coo diz Jorge Luiz Borges, Deus não é teólogo. Nem um metafisico. Já se disse que ele é um artista, um construtor, um poeta.Mas essa linguagem é dificil,pelo menos no cenário da crise da conciência mitológica que percorremos. A linguagem teológica,ainda abrindo caminho na questão de o que o mundo "significa" numa época que pressupõe "uma mudança radical em todas as formas que existiam no antigo plano", terá que encarar seu dilema. Terá de chegar a um acordo com a Imaginação Primária e com a transferencia de seus termos de cntextos de transcendencia dualista para os de imanencia radical, e da sistemática da "teo-lógica" para os centros abertos da "teo-poética". Enquanto isso, corre o risco de que seus mitos escorreguem, se é que isso já não aconteceu, para uma pseudomitologia..Por isso, as religiões ocidentais têm nesse momento um apelo tão relevante. "Aquele que acredita em alguma coisa, não acredita". "Conhecer é viver". "Ele e a fonte são um ". Estas e outras máximas estão mais próximas da consciência arquetipica do que das doutrinas intelectualisticas da consciência religiosa ocidental.Somente a tradição mistica ocidental stá ainda mais próxima. "Estavas comigo, ma eu não estava contigo"(Santo Agostinho)". "Deus está mais perto de mim do que eu".(Meister Eckardt).
Mas a arte das escrituras é a arte da parábola, que de fato está muito mais próxima da consciência arquetipica. O tema da busca, tão evidente em muito da literatura contemporânea, é tão biblico quanto moderno. E a doutrina da Palavra, se entendida em seu modo paradoxal de revelar e ao mesmo tempo ocultar, é precisamente a metáfora do significado que o poeta deseja mais ardentemente. Nada é mais desejável e mais perigoso para o poeta do que sua relação com a palavra.
Mas estamos na posição daquele poeta que -- no poema de Stefan George é chamado "DAS WORT" -- levava seus sonhos á velha Norn, que ficva sentada á beira de um poço. Desse poço, Norn tirava nomespara os sonhos do poeta. Com esss nomes, o poeta compunha seus poemas fáceis. Um dia, o poeta trouxe uma jóia. A deusa do destino passou longo tempo procurando o nome para a jóia. Por fim, ela disse ao poeta: "Para esta não há nada (nem coisa, nem nome) lá no fundo". O poeta retornou da viagem muito triste, e disse :"Aprendi. Nada está onde a Palavra se quebrou."
Assim como o poeta, manipulamosas palavras, controlamos o signifcado, inventamos padrões. Mas,quando pedimos essência do discurso(a jóia), o poço não responde: não há nome para isso, não pode ser convertido em coisa, não está sujeito a manipulação. A Palavra é dada, está á nossa disposição. Minhas palavras hoje são simbolos quebrados. Sabemos, á nosso modo, que nada está onde a Palavra se quebrou. Precisamos aprender de novo, desta vez das profundezas, a ouvir a Palavra que ressoa através de nossa palavras.
Ou como o jovem oriental que, estando no mercado, foi perguntar ao monge o caminho para a cidade. Todos em volta riram, pois ele já estava lá. Assim também nós precisamos apenas deixar o SER ser (deixar DEUS tomar conta de nós). E então tudo se transforma: o que foi projetado nas imagens mitológicas dualistas retorna á psique profunda e nos sustenta como uma Presença lá.