sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O REALISMO CRISTÃO

O cristão é um ser extremamente realista. Conhece a existência humana em sua dialética, distendida entre o bem e o mal, o pecado e a graça, a esperança e o desespero, o amor e o ódio, a comunicação e a solidão. Ele vive nestas duas dimensões. Sabe que, enquanto caminha, pode pender mais para um que para outro lado. Como cristão, ele se decidiu pelo amor, pela comunhão, pela esperança, pela graça. Cristo nos mostrou como devemos viver nessa dimensão. Se nos mantivermos aí, seremos felizes já aqui e para sempre. Com isso não quer se bagatelizar a dramaticidadde da existência humana. Porém temos esperança: "cofiai, eu venci o mundo" (Jo 16,33). Ele nos disse, antes de nos deixar. Depois de Cristo não poderá haver mais drama, mas somente, como no mundo medieval, os autos sacramentais. E isso porque com Cristo entrou a esperança, a certeza da vitória e a convicção segura de que o amor é mais forte que a morte.
Se nós nos mantivermos abertos a todos, aos outros e a Deus e se buscarmos colocar o centro de nós mesmo fora de nós, então estamos seguros: a morte não nos fará nenhum mal e não haverá uma segunda morte. Já começamos a viver neste mundo o céu, entre perigos talvez, mas seguros de que estamos no caminho certo e já na casa paterna.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O APOSTOLO PAULO DISSE: DEUS, SEU AMOR ME CONSTRANGE

Que extraordinária tolice se comete defendendo o cristianismo, como se trai assim o restrito conhecimento do homem, e como essa tática, ainda que inconsciente, tem, subrepticiamente, partida ligada com o escândalo, fazendo do cristianismo uma coisa tão lamentável, que afinal é necessário advogar sua causa para o salvar. Isso é tão verdade que o primeiro inventor na cristandade duma defesa do cristianismo é de fato um outro Judas. Ele também trai com um beijo, mas é o beijo da estupidez. Advogar desacredita sempre. Suponhamos alguém que possui um armazem cheio de ouro e que queira dar todos os seus ouros aos pobres mas se cai ao mesmo tempo na estupidez de começar a sua caridosa empresa com um discurso, demonstrando em três pontos tudo que ele tem de defensável, nada mais é preciso para que seja posta em duvida a caridade de seu gesto. E o cristianismo então? Declaro incrédulo aquele que o defenda. Se crê, o entusiasmo da sua fé nunca é uma defesa. È sempre um ataque, uma vitória. Um crente é um vencedor.
Dessa maneira se passam as coisas com o cristianismo e o escândalo. Devido a isso a possibilidade do escândalo está bem presente na definição cristã do pecado. Está no: frente a Deus. Um pagão, o homem natural, reconheceriam sem dificuldade a existência do pecado, mas este: frente a Deus, sem o qual no fundo o pecado não existe, para eles é ainda demasiado. A seus olhos, é dar excessiva importância á existência humana. Um pouco menos de importância ainda admitiriam... mas o excesso é sempre demais.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O DESEPERO HUMANO

Ao lado do desespero que ás cegas se embrenha no infinito até a perda do eu, existe um de outra espécie, que se deixa como que frustrar do seu eu por "outrem". A contemplar as multidões a sua volta, a encher-se com ocupações humanas, a tentar compreender os rumos do mundo, este desesperado esquece-se de si mesmo, esquece seu o seu nome divino, não ousa crer em si mesmo e acha demasiado ousado sê-lo e muito mais simples e seguro assemelhar-se aos outros, ser uma imitação servil, um número, confundido no rebanho.
Esse tipo de desespero passa completamente despercebido. Perdendo assim o seu eu, um desesperados dessa espécie adquire uma aptidão sem-fim para ser bem visto em toda parte, para se elevar na sociedade. Aqui, nenhuma dificuldade, aqui o eu e sua infinitização deixaram de ser um entrave. Polido como um seixo, o nosso homem gira de um lado para o outro como moeda corrente. Bem longe de o tomarem por um desesperado, é precisamente um homem como a sociedade o quer. De modo geral a sociedade ignora, e isso explica-se, quando há motivo para recear. Esse desespero, que facilita a vida ao invés de a entravar, não é, naturalmente, tomado como desespero. Essa é a opinião da sociedade, como se pode ver pela maioria dos provérbios, que nada mais são do regras de prudência. Dessa maneira, o ditado que diz a palavra é de prata, o silêncio é de ouro. Por que? Porque as nossas palavras, como fato material, podem trazer-nos dissabores, o que é uma coisa real. Como se calar-se fosse uma coisa de nada! Quando é o maior dos perigos! O homem que se cala fica com efeito reduzido ao diálogo consigo mesmo e a realidade não o vem socorrer castigando-o, fazendo recair sobre ele as consequências de sua palavras. Nesse sentido não, nada custa calar-se. No entanto aquele que sabe onde há que temer, receia precisamente mais que tudo qualquer má ação, qualquer crime duma orientação interior que não deixe vestigios exteriores. Aos olhos do mundo, o perigo está em arriscar, pela simples razão de poder perder. Evitar os riscos, eis a sabedoria. Contudo, a não arriscar, que espantosa facilidade de perder aquilo que, arriscando, só dificilmente se perderia, por muito que se perdesse, mas de toda maneira nunca assim, tão facilmente, como se nada fora : a perder o que? A si mesmo. Porque se arrisco e me engano, que seja! A vida castiga-me para me socorrer. Todavia se nada arriscar, quem me ajudará? Tanto mais que nada arriscando no sentido mais lato-- o que significa tomar consciência do eu -- ganho ainda por cima todos os bens deste mundo -- e perco o meu eu.
Deste modo é o desespero do finito. Um homem pode, com ele, levar perfeitamente uma vida temporal, humana em aparência, tendo os louvores dos outros, as honras, a estima e todos os bens terrestres. Porque o século, como é costume dizer-se, não se compõe somente de pessoas dessa espécie, ou seja, devotadas ás coisas do mundo, sabendo usar os seus talentos, acumulando dinheiro, hábeis em prever etc. Seu nome talvez passe á história, mas terão sido na verdade eles mesmos? Não, porque espiritualmente não tiveram eu, um eu pelo qual tudo arriscassem, porque estão absolutamente sem eu perante Deus.., por mais egoistas que sejam.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

CRISTO SOLITÁRIO

Não, a Vida pode odiar. Ela odeia com fervor, abertamente, visando o inimigo diretamente, sem importar-se com a própria segurança. Ela nunca cometeria um assassinato pelo simples prazer de matar ou para enriquecer ou para vingar-se. Mas ela é capaz de matar em um combate franco e honesto.
A vida, tal como se apresenta na profundeza da alma humana, é incapaz de apegar-se de maneira vingativa e rancorosa a qualquer injustiça sofrida no paszsado. Quando o ódio é descarregado, o sol volta a brilhar como depois de uma tempestade, em perfeita harmonia com a Vida no organismo e a energia Vital na atmosfera.
A peste odeia em silêncio, ruminando e atormentada pela continua pressão do ódio, que dissimula até o momento em que a ocasião e a vitiuma se oferecem. Então ela ataca sem piedade, ,por trás do anteparo ou da moita de uma mesa bem protegida de um departamento de admnistração social.
Cristo enfrenta seus inimigos abertamente. Ele nada esconde, mas sabe quando eles se colocam em campo para preparar-lhe uma aarmadilha e é bastante inteligente para percebê-lo, apesar de sua atitude fundamental de confiança. Ele não desconfia sistematicamente mas, como um cervo, desenvolveu um sentido agudo do perigo.
O inimigo de Cristo está bem escondido e ninguém sabe o que ele está preparando. Então a situaçãoi muda. Cristo se cala, pois nada tem para opor á raiva assassina da peste; a peste ocupa o primeiro plano e atrai toda a atençaõ pública. Seus instrumentos para assassinar estão prontos. Criusto é torturado´para satisfazer instintos sanguinários do público. E a verdade, tendo perdido sua morada, chora uma vez mais.

SOLITÁRIO

SOLITÁRIO E SÓ ESTOU---
MAS RICO E NO MEIO DE TODOS ELES
O SILÊNCIO ENVOLVE MEUS DOMINIOS,
MAS, EM CADA PALAVRA DELES, ES ESTOU,.
OH, DAI-ME UM AMIGO
QUE NÃO PEÇA
] A INFINITA SEGURANÇA DO MEU NOME.
QUE AJUDE A LEVAR ATÉ O FIM MINHA LUTA
PELA CRIANÇA QUE VIRÁ.
QUE NÃO TENHA IMPRESSA
EM SEU ROSTO, A PESTE,
NEM DESESPERO NO OLHAR.
QUE VENHA JOGAR LIMPO NESTE JOGO
DE VISÃO ATRAVÉS DA BRUMA,
DE ESPERANÇA NO DESESPERO
E DE CORAGEM NO MEDO.
dENTRO, AINDA QUE FORA--
PENETRANDO A MÁSCARA DO IMPOSTOR,
PARA DESCOBRIR A ESPERANÇA NO HOMEM SIMPLES.